sexta-feira, 3 de junho de 2016

Está tudo errado

Nada contra vestirem-se com o biquini mais curto. Nada contra postarem a selfie diária. O prato diário. O gato diário. Onde vão, com quem vão e quem são. Ou querem ser. Nada contra fazerem o que querem da vossa vida. Nada contra porem-se na montra. Quero apenas dizer, a quem não o faz, porque não pode ou não quer, que não se tente pelo resto. Nada contra quem se não mostra. Nada contra quem não conta. Aliás. Tudo a favor. Tudo a favor de quem tem pudor. De quem ainda se reserva. De quem espera. De quem a sua casa tem realmente segredos. E só os revela a quem vale a pena, não se deixando levar pela oferta eficaz e fugaz da comparação barata do post ao lado, num scroll frenético em que as pessoas se meteram em que até os apelos à medula se banalizaram. Mil vezes quem nunca vi. Mil vezes quem não conheço de cor os cantos. Esta vai para toda a gente que se mantém à margem. Principalmente, porque o post é meu, para o público feminino que se reserva. Ninguém vos diz, mas todos vos querem. Persistam. Acreditem no que vos digo. Façam-se valer a pena. Vai valer a pena. 

Se estás à procura do botão do like, põe-te nas p*****. Isto não é o instagram.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Novelas: o elogio a Chaplin

Sou um homem casado, que é o mesmo que dizer que vejo novelas. Não necessariamente no plural, mas tornou-se já norma lá em casa que no período pós-telejornal a televisão fica entregue a uma qualquer produção ficcional portuguesa ou brasileira, ou ambas. É uma daquelas batalhas que um gajo ainda trava nos primeiros tempos, mas que rapidamente percebe que há batalhas muito mais importantes no horizonte cuja vitória muitas vezes só precisa de um simples "fosga-se [inserir nome da esposa]! Eu deixo-te ver a novela todo o santo dia! Deixa-me lá ver agora este Peru-Uruguai do campeonato de mundo de futebol...feminino!" para ser ganha. São escolhas. De qualquer forma - e é com um pingo de indisfarçada vergonha que o digo - por vezes vejo-me investido no enredo, sempre inverosímil claro, da novela da época (também acontece dar por mim investido nas mamas da Lencastre mas adiante). E sempre que dou por mim a pousar o iPad para dedicar toda a atenção a um qualquer Lourenço Ortigão a fazer de quarentão penso para mim: "Foda-se! Será que isto afinal é bom? Será que afinal este gajo é bom ator? Naaaa... Não pode." Mas não poucas vezes ali fico, com o iPad a chamar por mim desesperado, traído. A esposa olha de esguelha, com um sorriso estampado na cara, como quem diz: "Consegui!", e eu esfrego as mãos de contente com a conquista de mais um crédito para o Áustria-Panamá que começa daí a minutos. Felizmente, por vezes somos brindados com verdadeiras demonstrações do que é representar e, graças a elas, conseguimos voltar a trepar do fosso imundo que é a ficção nacional. Os padrões voltam a subir um bocadinho e a ver a luz do dia e nós ficamos outra vez mais felizes connosco mesmos. "Realmente... aquele Ortigão é mesmo terrível. Nunca te esqueças disso Morales!!!". Vem tudo isto a propósito desta espetacular música que me fez voltar a ver e rever o discurso do Chaplin no The Great Dictator. Estamos a falar de uma cena gravada há mais de 75 anos e que hoje me dá arrepios. Hoje lá em casa vai-se ver cinema do bom. Tá beeeemm.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Apenas para memória futura.

Deixo aqui o texto que, até agora, tinha apenas no meu facebook. Transcrevo-o, para que fique arquivado.

Um queijo a todos.

"Caro Ladrão (que não tens outro nome),
Fica sabendo que hoje apresentei queixa pelo iPad Mini e pela pulseira que roubaste de minha casa em Agosto, na festa que lá dei para amigos. Podes estar descansado que a queixa apenas é feita porque me convém em termos burocráticos, já que tenho perfeita noção de que cá em baixo não te apanho, pois não sei quem és (a queixa vai contra incertos). Mas torno isto público porque se cá em baixo não te apanho, sei que ao menos na tua consciência, a qual é auditada por Ele mesmo, serás julgado. E condenado. Devo-te lembrar que, para agravar, a festa era no jardim e eu avisei que a casa estava fechada. Ainda assim entraste. Pela cozinha entreaberta. Como os ratos fazem. E as tuas mãos farejaram para além do que a vista via, manipulando manetas de portas fechadas e entrando no quarto dos meus pais, para aí sim, furtares o iPad e a pulseira. Porque há diferença entre levares uma coisa que está à vista e procurares deliberadamente por alguma coisa que possas levar. Tu não tens a sede dos oportunistas, mas a fome dos reles. A tua alma não é corrompível, está corrompida. Como ousas, filho de puta, entrar no quarto dos meus pais? Esse templo onde os Machadinhos são concebidos e onde não és digno do ar que respiras, sequer. És lixo. Mas não julgues ser daqueles sacos pretos bonitinhos com a fitinha amarela para dar o nó e que a empregada deixa na escada para o porteiro recolher. És o lixo que fica quando os rafeiros se fartam de o escavacar. És o que os cães despojam. És fraco, és merdoso, és rasca, frouxo, chocho e coxo. Como diria o Almada, nem cigano és, és meio cigano. És o último a ser escolhido no recreio, és o bairro castanho do monopólio, és vodka rasca com cheiro a amêndoa, és a fava do bolo rei, és feio e esse cheiro não sai. Desejo-te todos os pequenos males e azares que a vida possa reservar para uma pessoa. Quero-te com cieiro, aftas e pé de atleta até ao fim da vida. Quero que te caia um piano em cima e que o coiote te apanhe e leve o seu tempo a escalpar-te. Quero que o empregado se demore a trazer-te a manteiga, que sejas o último na fila das Finanças e o primeiro na fila para a câmara de gás. Quero que todos os sinais fiquem encarnados para ti, que caia chuva quando pões um fato novo, que o elevador se avarie, que não saibas duma meia, que te engasgues quando “ela” te vier falar e que a tua mãe torre a herança no tratamento dos joanetes ao ponto de te deixar não mais do que uma dívida de 10€ no café do Sr. Antunes. Desejo-te não o inferno, mas o purgatório para sempre. Mereces uma eternidade na angústia dos que esperam e não a certeza infeliz dos que reprovaram. Esses, ao menos, podem pensar em redimir-se. Tu nunca vais saber a diferença, meu merdoso. Faz bom proveito disso. E não te esqueças que eu bem sei que entre roubar um iPad (que podes usar) e roubar uma pulseira de senhora (que vais vender), vai um grande salto. És mesmo um ladrão nojento, do mais baixo que existe. Pobre o teu espírito que se deixa levar por uma coisa destas. Porque não é o iPad e a pulseira que me chateiam. Mas o facto de ter tido um réptil em minha casa e, pior, no quarto da minha mãe. O que me custou não foi ficar sem dois objectos, mas antes saber pelo meu pai que a minha mãe mal dormiu nesse dia, angustiada pelo facto de ter tido um servente do mal no sítio que é o mais seu. Isso foi o que me roubaste merdoso. Por isso se quiseres levar mais alguma coisa cá de casa, não entres. Pede, que eu levo-te lá fora ao portão.

Nota: sei que já passou algum tempo, mas se alguém souber quem o fez, cuspam-lhe com os olhos e digam-lhe que, a meu ver claro, este gajo é um merdoso."

terça-feira, 19 de maio de 2015

Coitadinha

Diz o Correio da Manhã que Cláudia Vieira "deslumbra em Cannes".

E depois vemos as fotografias.

Esta dá-me vontade de rir.




segunda-feira, 18 de maio de 2015

Keep it simple


Percorrendo o meu facebook, começo a ver aparecerem algumas fotografias de amigas de biquíni. Peço desculpa, de fato de banho. Quer dizer, de triquíni. Sinceramente, não faço ideia o que aquilo é. As miúdas perderam a cabeça. Há tangas gigantes que vão até aos ombros, partes de cima do biquíni com trinta e sete mil fios para se entrelaçarem uns nos outros quando o resultado final, não nos esqueçamos, é simplesmente dar um nó naquilo.

Adoro as Cantês, as Fio-Rosa, as Papua e mais não sei quantas da vida, pelos catálogos que nos dão, mas odeio-as pelo festival a que nos sujeitam cada vez que vamos à praia.

Onde é que estão os típicos três triângulos de que tanto gostamos? Uma miúda com um biquíni Cantê é como uma miúda com demasiada maquilhagem. Às vezes fica bem, mas não se esqueçam, minha gente, que, no final do dia, nós gostamos é de vocês simples.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

No estrangeiro, rebenta a bolha.



Não me admirava se isto fosse entre certas pessoas que conheço.


É bom e nostálgico. Faz-me lembrar as estupidezes que já fizemos nas despedidas de solteiro.

E a atitude da vítima não é mais do que uma reacção normal entre os homens que são amigos: "(...) após ser libertado, o homem recusou apresentar qualquer queixa. Vestiu-se e juntou-se novamente aos amigos para continuar a festejar a despedida de solteiro."

A amizade masculina é estúpida, é filha da puta, é má, é escárnio, é bota-abaixo. Mas é assim. E tem tanta graça.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Sim, snooker.

Está neste momento a decorrer o Campeonato do Mundo de Snooker... Esperem!! Não mudem já de canal que a ideia não é explicar porque é que o Snooker mundial atravessa um período de relativa crise/abundância de talento. Não! A ideia não é essa. Nunca vi um jogo de snooker do princípio ao fim, nem sei bem as regras da coisa para além daquela dança de ir metendo as encarnadas, alternadas com as de cor. A ideia é chamar a atenção, não para a mesa com pano de feltro verde, mas para um dos homens que por estes dias nela se vai roçar. Porque, o fascínio por desporto (se o snooker é um desporto é toda uma nova discussão pela qual não quero entrar) não existe em abstrato. Pelo menos no meu caso. Pessoas haverá que gostam de futebol apenas porque apreciam a beleza estética e geométrica de ver 22 pessoas a correr num rectângulo relvado. Ou que apreciam a beleza de ver uma pedra a deslizar em gelo enquanto diligentes fadas do lar varrem o seu caminho. Há dessas pessoas. Não são no entanto essas as pessoas que são os verdadeiros amantes de desporto. Não são elas que enchem os estádios nem que berram para televisões. Os verdadeiros amantes de desporto são os que encontram na competitividade o motivo para verem esse mesmo desporto. São tanto os que procuram a perfeição e consequente resignação adversária como os que apenas buscam a superação depois da desilusão. Esses, os que vêem o desporto de forma objetiva, fazem-no porque em algum momento da sua vida se apaixonaram por alguém. Há muitos anos atrás o pai de um amigo meu levou-me à velhinha Luz ver um miserável Benfica-Sporting que acabou 0-0. Foi um jogo verdadeiramente merdoso que em condições normais deveria ter-me feito meter o futebol numa gaveta e nunca mais voltar a pôr os pés num estádio. Mas não. Nesse dia, na Luz, eu apaixonei-me por um baixinho que lá andava a lutar contras os outros e contra os seus, chamado João Vieira Pinto. O meu tio vinha na viagem para casa a queixar-se da perda de tempo e dinheiro que aquilo tinha sido e eu vinha no banco de trás a relembrar cada gesto do João Pinto naquele jogo. Algum tempo depois esse mesmo João Pinto desfazia o Sporting no famoso 6-3 e por essa altura já eu estava irremediavelmente agarrado. Agora que penso nisso não sei se foi ele que fez nascer em mim a minha paixão pelo Benfica mas não tenho dúvidas que foi a faísca que acendeu o rastilho. Isto vale para o Benfica, como vale para Jordan no basket, ou, mais recentemente, Mcilroy no golfe ou Brady no futebol americano. Isto tem o seu quê de "la paliciano" mas aquilo que torna os desportos interessantes e, mais que isso, apaixonantes são aqueles que os praticam. Normalmente porque são muito melhores que o resto das pessoas (onde infelizmente nos incluimos) a praticar determinado desporto, mas por vezes nem isso é preciso. Basta a dose certa de carisma e um bom timing e a coisa está feita. Tudo isto para dizer que... o Campeonato do Mundo de Snooker está neste momento a decorrer. Nele está um homem chamado Ronnie O'Sullivan que para os que, como eu, apenas procuram um pretexto para mergulhar num qualquer novo mundo desportivo, tem a combinação perfeita de talento/carisma/loucura para nos deixar agarrados ao que se vai passando em Sheffield por estes dias - um Campeonato do Mundo em Sheffield!!! Já adoro snooker foda-se!! Ronnie O'Sullivan vem daquele molde que produziu talvez o maior número de atletas de eleição. O molde que junta o talento natural aperfeiçoado com incontáveis horas de prática àquela maneira de encarar o mundo "eu contra vocês todos meus filhos da puta" que só uma infância difícil (normalmente marcada por uns porradões valentes de um pai bem regado a álcool) consegue dar. É uma combinação explosiva não só porque produz uma parte importante daqueles que entram na História do Desporto mas porque também produz os maiores trainwrecks da História. O génio vem muitas vezes acompanhado do desequilíbrio emocional (muitas vezes provocado por esse mesmo génio e pela forma como se consegue ou não gerir os seus efeitos) e essa luta interna que os génios vivem sempre que estão sob as luzes da ribalta é talvez das coisas mais viciantes para um amante de desporto. O'Sullivan já provou o seu génio incontáveis vezes e está agora a lutar para ficar na História como o melhor de sempre. É o último estádio de desenvolvimento de um atleta e aquele a que apenas uma ínfima percentagem consegue atingir. Fiquei a conhecer a sua história (E AGORA VEM O VERDADEIRO MOTIVO PORQUE ESCREVI ESTA MERDA TODA) neste fabuloso trabalho da New Yorker e, desde então, que marquei este campeonato do mundo na minha já preenchida agenda de cenas-desportivas-que-quero-ver-se-a-minha-mulher-não-estrebuchar. Provavelmente não verei nenhum jogo, mas o que é facto é que já tenho aberto no computador um separador com o live score da partida do O'Sullivan. Ontem, por exemplo, O'Sullivan jogou descalço. A razão porque jogou descalço interessa pouco para além de que ajuda a provar de que estamos perante alguém diferente. E o desporto, se formos a ver bem, acaba por ser isso mesmo. A busca por aqueles que são diferentes dos outros. Não só os que são melhores mas os que fazem diferente.